Perdas e luto: (trans)formações ao longo do ciclo vital
Quando paramos para pensar sobre luto, a primeira coisa que nos ocorre é a morte de um ente querido. Sem dúvida, essa perda é imensuravelmente sofrida e toca a todos nós de forma específica, singular e incomparável. Porém, ao longo do ciclo vital temos ainda muitas outras perdas e lutos vividos, por vezes até não reconhecidos. Você já se perguntou quais são? Espero com esse texto conversar com você sobre isso. Vamos juntos.
Desde que nascemos, muitas perdas são vividas. Tanto nossas, quanto dos nossos familiares. Como perdas em aspectos sociais (determinadas condições e vida), ou ainda perdas como a do posto de filho único e da “eterna” lua de mel do casal. Conforme vamos caminhando no tempo, tendemos a acumular uma série dessas perdas, comuns em determinadas etapas da vida. Com isso, posso dizer que a experiência de perdas e luto é universal a todos nós e ocorre de várias formas. E em quais situações podemos identificar isso?
Exatamente, em diversas situações! Da infância à velhice. Na infância quando mudamos de escola, quando descobrimos que Papai Noel não é real, ou quando perdemos o “vovô”. Na adolescência quando enfrentamos as mudanças da puberdade, quando terminamos um relacionamento com o nosso primeiro grande amor, ou quando descobrimos que nossos pais não são super-heróis. Na vida adulta quando pagamos as primeiras contas da casa, quando nos casamos e deixamos a vida de solteiro, ou quando começamos a trabalhar e deixamos de ter todo o tempo do mundo. Também quando envelhecemos, claro, e vemos muitos amigos queridos falecerem e nossa saúde já não ser mais a mesma de 30 anos atrás. Essas, e muitas outras, são perdas previsíveis ao longo da vida.
Mas não podemos esquecer que temos ainda aqueles eventos imprevisíveis, que tememos e torcemos para que nunca aconteçam conosco. Como adoecer na juventude, perder o emprego, se descobrir infértil ou vivenciar uma catástrofe ambiental, por exemplo. Situações muito difíceis e que podem nos machucar intensamente, embora muitas vezes não tenhamos o poder de evitá-las integralmente.
Falamos sobre alguns exemplos, mas o espaço para conversa é pequeno e não conseguiremos listar todos. Então como podemos identificar se o que estamos vivendo é um luto? Conseguimos saber? Sim, temos algumas pistas que nos ajudam a ampliar a lista!
Vale lembrar que uma experiência de luto é caracterizada como uma transição esperada no ciclo vital, tanto para situações previsíveis quanto para imprevisíveis. Além disso, é um evento altamente doloroso e singular, com características emocionais, sociais, econômicas e espirituais. E mais importante de tudo, viver o luto é uma experiência saudável! O luto nos possibilita ressignificar mudanças e superar perdas. É importante para que nossos vínculos e afetos sejam ainda mais fortes. Consegue identificar outras situações a partir dessas características?
Por fim, deixo para você essa pergunta: quais lutos da vida te acompanham e o que você pode aprender e transformar com eles?
Gustavo Affonso Gomes
Psicólogo – CRP 07/25475
Membro do núcleo do CORA/CEFI