Autocuidado no processo de luto

O luto é um processo que acontece quando há o rompimento de um vínculo de amor. A forma como ele nos afeta é diversa e em várias dimensões. Nessa manifestação podem surgir muitos sentimentos e também o sofrimento.
Na vida de um modo geral não é incomum observarmos as pessoas, incluindo nós mesmos, querendo e buscando se livrar do sofrimento. Com o luto não seria diferente. Podemos evitar falar da pessoa que morreu, por exemplo, numa tentativa de evitar a dor. Independente da forma que tentamos fazer isso, podemos querer e tentar eliminar o sofrimento gerado no processo de luto. O que precisamos entender é que só sofremos por algo que tem significado para nós, então para eliminar o sofrimento também eliminaríamos o amor envolvido.

Não temos como evitar a manifestação do luto após uma perda e infelizmente não temos como eliminar sua dor. O luto é um processo universal, mas sua manifestação é singular. Não temos como escolher o que vamos ou não sentir. E se ficamos lutando para não sentirmos algo podemos ter dificuldade de nos aproximar de coisas importantes para nós. Fazendo isso, não conseguimos cuidar de nós também.

Pode até parecer que falar sobre autocuidado pareça egoísmo. Pode parecer que ao pensar em mim, não vou estar pensando naqueles que amamos e não estão mais aqui conosco. Pode parecer que se não sofremos e vivemos plenamente esse sofrimento é como se deixássemos de amar-los. Mas para conseguirmos vivenciar esse processo de uma forma mais saudável, temos sim que praticar o autocuidado. Autocuidado não é sinônimo de evitar o
desconforto.

O processo de luto é necessário para que possamos nos adaptar a uma nova realidade diante do rompimento de um vínculo de amor. Quando nos abrimos para dar significado para nossa dor, ela passa a ser experienciada de uma forma diferente.

Praticar o autocuidado em relação ao processo de luto não quer dizer que tu vá esquecer da pessoa que não está mais aqui, mas possibilita tu aprender a lidar com a ausência dela. Sim, o luto tem que ser vivenciado e não temos que tentar evitar os sentimentos que são causados por ele. Nesse processo, entretanto, podemos escolher como vamos nos tratar.

E como praticar o autocuidado durante o processo de luto? A gente só consegue cuidar do que a gente conhece, então entrar em contato consigo e não evitar é necessário. Se observe e esteja atento às suas necessidades – praticar atividade física num dia pode ser autocuidado e em outro não, por exemplo. Uma ideia simples, por exemplo, pode ser tomar mais água ao longo do dia. Esteja disposto a experimentar diferentes práticas – tentativa e erro fazem parte desse processo. E o mais importante: busque se tratar com gentileza!

Mariana Zanatta
Psicóloga CRP 07/26370

2020 – O ano inesperado

Dois mil e vinte – um ano que se inscreve na história como aquele que surpreendeu a todos. O ano que não foi previsto e que não pediu licença para desacelerar o mundo. Para nos colocar frente a frente com a finitude e impotência diante do desconhecido.

Um tempo de afastamento necessário, de insegurança e medo. As incertezas, que se repetem em diferentes lugares do mundo, desvelam a fragilidade humana. E se por um lado nos afastamos por outro, sentimos o quanto as pessoas e não as coisas, são fundamentais em nosso viver. Quando a livre convivência se tornou um perigo, percebemos que a economia de abraços, visitas e presenças, são inúteis e sem sentido.

Perdemos muitos, mais de 180 mil brasileiros, dentre eles – familiares, amigos, conhecidos, ídolos. Cada perda levando consigo um pouco do amor, da história e da alegria de quem ficou. Muitas destas mortes ocorreram sem a oportunidade de um último adeus, de dar um último abraço, de estar perto. Sabe-se que esta impossibilidade não foi ocasionada pela falta de afeto, nem pela falta de tempo ou vontade, ao contrário, só foi assim por que 2020 se apresenta como um tempo de exceção, de não podermos fazer muitas escolhas, onde pela segurança precisamos nos manter distanciados.

Um ano que se por um lado nos assusta, por outro provoca repensar as escolhas, a vida, as relações. Um ano que nos instigou a diminuir distâncias pela tecnologia e, desta forma, ampliou horizontes e possibilidades de novas formas de contato. Também nos lembrou que as distâncias podem ser relativas, quando percebemos que, o que nos conecta e aproxima, são os vínculos estabelecidos com quem amamos e estimamos. Sejam estes “encontros”, presenciais, virtuais ou mesmo a partir de nossas lembranças e memórias.

2020 potencializou e potencializa sentimentos, deixando claro que somos seres sociais e que só sairemos desta experiência se cuidarmos uns dos outros. E que estarmos afetivamente conectados, pode ser o melhor e o possível a se fazer neste momento e a presença que tanto queremos ter na vida, se tudo der certo, estará logo ali adiante.

E se caso a presença física já não seja mais possível pela morte – condição de quem vive, ilumine seu coração, sua casa e acenda a lembrança do amor que jamais nos separará. Acenda o amor pelos fatos vividos, pela história compartilhada e por aquela lembrança de quem se foi, que está eternizada no seu coração e na sua memória.

Se em 2020 as palavras e sentimentos ficaram presos na garganta, se nos momentos mais difíceis faltaram os abraços amigos, se a solidão por vezes bateu a porta, reconheçamos também os momentos de muita troca de apoio vindo de lugares inusitados, de pessoas desconhecidas e os momentos em que distâncias perderam efeito.

Não sabemos se este ano quis nos ensinar algo, mas não aprender com ele seria um desperdício de oportunidade. Talvez as lições não precisassem ser tão duras, mas uma vez sendo, que façamos o nosso possível em relação a nós mesmos e aos outros – oferecendo nosso melhor sentimento, um olhar generoso, palavras de afeto, escuta, ligações, chamadas de vídeo, pois como diz nosso poeta – Guimarães Rosa*, sobre o correr da vida:

O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
no meio da tristeza!

Que 2020 passe, com a certeza de que podemos ser melhores.

*João Guimarães Rosa (1908-1967). O texto é um trecho do romance Grande Sertão Veredas.

Texto escrito pela Psicóloga Ana Maria Dall’Agnese

Por trás da campanha Iluminando Memórias

Como fazer uma homenagem ao Dia de Finados respeitando o contexto delicado em que vivemos e ao mesmo tempo estando próximo das pessoas nessa data tão significativa? Foi com esse desafio que o Grupo Cortel abraçou a campanha Iluminando Memórias e tocou mais uma vez o coração de muitas pessoas.

Foram 30 dias de ações e cerimônias transmitidas virtualmente para acolher as famílias da forma mais humana possível: com muito amor e respeito. Cada detalhe contou com a dedicação e o carinho de toda a equipe, resultando em uma linda homenagem envolvendo os 9 empreendimentos do Grupo Cortel.

Neste videocase sobre a construção da campanha Iluminando Memórias, conheça um pouco mais das pessoas e sonhos por trás da nossa programação especial para o Dia de Finados 2020:

Perdas e luto: (trans)formações ao longo do ciclo vital

Quando paramos para pensar sobre luto, a primeira coisa que nos ocorre é a morte de um ente querido. Sem dúvida, essa perda é imensuravelmente sofrida e toca a todos nós de forma específica, singular e incomparável. Porém, ao longo do ciclo vital temos ainda muitas outras perdas e lutos vividos, por vezes até não reconhecidos. Você já se perguntou quais são? Espero com esse texto conversar com você sobre isso. Vamos juntos.

Desde que nascemos, muitas perdas são vividas. Tanto nossas, quanto dos nossos familiares. Como perdas em aspectos sociais (determinadas condições e vida), ou ainda perdas como a do posto de filho único e da “eterna” lua de mel do casal. Conforme vamos caminhando no tempo, tendemos a acumular uma série dessas perdas, comuns em determinadas etapas da vida. Com isso, posso dizer que a experiência de perdas e luto é universal a todos nós e ocorre de várias formas. E em quais situações podemos identificar isso?

Exatamente, em diversas situações! Da infância à velhice. Na infância quando mudamos de escola, quando descobrimos que Papai Noel não é real, ou quando perdemos o “vovô”. Na adolescência quando enfrentamos as mudanças da puberdade, quando terminamos um relacionamento com o nosso primeiro grande amor, ou quando descobrimos que nossos pais não são super-heróis. Na vida adulta quando pagamos as primeiras contas da casa, quando nos casamos e deixamos a vida de solteiro, ou quando começamos a trabalhar e deixamos de ter todo o tempo do mundo. Também quando envelhecemos, claro, e vemos muitos amigos queridos falecerem e nossa saúde já não ser mais a mesma de 30 anos atrás. Essas, e muitas outras, são perdas previsíveis ao longo da vida.

Mas não podemos esquecer que temos ainda aqueles eventos imprevisíveis, que tememos e torcemos para que nunca aconteçam conosco. Como adoecer na juventude, perder o emprego, se descobrir infértil ou vivenciar uma catástrofe ambiental, por exemplo. Situações muito difíceis e que podem nos machucar intensamente, embora muitas vezes não tenhamos o poder de evitá-las integralmente.

Falamos sobre alguns exemplos, mas o espaço para conversa é pequeno e não conseguiremos listar todos. Então como podemos identificar se o que estamos vivendo é um luto? Conseguimos saber? Sim, temos algumas pistas que nos ajudam a ampliar a lista!

Vale lembrar que uma experiência de luto é caracterizada como uma transição esperada no ciclo vital, tanto para situações previsíveis quanto para imprevisíveis. Além disso, é um evento altamente doloroso e singular, com características emocionais, sociais, econômicas e espirituais. E mais importante de tudo, viver o luto é uma experiência saudável! O luto nos possibilita ressignificar mudanças e superar perdas. É importante para que nossos vínculos e afetos sejam ainda mais fortes. Consegue identificar outras situações a partir dessas características?

Por fim, deixo para você essa pergunta: quais lutos da vida te acompanham e o que você pode aprender e transformar com eles?

Gustavo Affonso Gomes
Psicólogo – CRP 07/25475
Membro do núcleo do CORA/CEFI

Iluminando Memórias: na mídia

Assim como a vida é continuamente renovada, o Grupo Cortel este ano se reinventou para realizar uma série de emocionantes homenagens no Dia dos Finados.

A campanha Iluminando Memórias teve duração de um mês e as ações que abrangeram os nove empreendimentos do Grupo Cortel foram repercutidas em diversos canais de comunicação nacional, que ressaltaram a importância das celebrações virtuais e atividades presenciais com distanciamento social para marcar essa data sensível neste momento de pandemia em que vivemos.

As reportagens divulgaram as lives com os poetas Allan Dias Castro e Fabrício Carpinejar, a ação de arrecadação de alimentos em Porto Alegre e na Região Metropolitana, as transmissões ao vivo dos cultos, assim como o lançamento do vídeo que marca a maior homenagem de velas do mundo.

Agradecemos a todos que estiveram conosco nessa linda campanha em homenagem aos entes queridos que para sempre terão um lugar repleto de amor e carinho em nossas memórias.

Relembre conosco a repercussão na mídia da programação especial do Grupo Cortel para o Dia de Finados:

Zero Hora

Leia a matéria na íntegra aqui.

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Correio do Povo

Leia a matéria na íntegra aqui.

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Jornal do Comércio

Leia a matéria na íntegra aqui.

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Diário Gaúcho

Leia a matéria na íntegra aqui.

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iG Saúde

Leia a matéria na íntegra aqui.

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O Globo

Leia a matéria na íntegra aqui.

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RJ1 (Globo)

Assista à matéria na íntegra aqui.

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G1 Rio de Janeiro

Leia a matéria na íntegra aqui.

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ISTOÉ Dinheiro

Leia a matéria na íntegra aqui.

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Agência Brasil

Leia a matéria na íntegra aqui.

 

Iluminando Memórias: A Maior Homenagem de Velas do Mundo

Cerca de 50 mil velas compõem a emocionante homenagem do Grupo Cortel nesse Dia de Finados.

Para ressignificar a data, o Grupo Cortel convidou seus clientes e seguidores a se permitirem a estender por um mês o momento de lembrar e sentir saudades dos entes queridos, que normalmente fica reservado apenas ao dia 2 de novembro.

Sabendo que um dia é pouco para quem tem saudade, as redes sociais do Grupo Cortel foram inundadas com uma programação especial que envolveu lives com o poeta Fabrício Carpinejar, conversas com psicólogas do Programa de Apoio a Enlutados, ação de arrecadação de alimentos em Porto Alegre e na Região Metropolitana, ação de envio de fotos cujo prêmio era o novo livro do poeta Fabrício Carpinejar e muitos outros conteúdos especiais desenvolvidos para promover a conversa sobre vida, morte, luto e saudades durante um mês. A ação culminou no lançamento do vídeo que registra a maior homenagem de velas do mundo – e que conta com texto e locução do poeta Allan Dias Castro.

Assista agora o vídeo completo dessa linda homenagem que preparamos com muito amor e carinho para você e sua família. Venha se lembrar de quem tanto amamos e se emocionar conosco.

 

 

Você entende a importância dos rituais de despedida no processo de luto?

O processo de luto envolve diversos rituais de passagem que são fundamentais para marcar a despedida das pessoas que amamos.

Eles também nos ajudam a compreender nossos sentimentos, lembrar dos bons momentos que foram vividos e também simbolizam o movimento de seguir em frente com a vida.

A convite do Grupo Cortel, a psicóloga Ângela Pratini Seger, membro do CORA – Núcleo de Estudos e Atendimento ao Luto, conversou conosco sobre a relação entre o processo de enlutamento e as atitudes que tomamos para chorar a perda da melhor maneira.

Confira:

Luto: sinônimo de transformação

O impacto de uma perda não se faz igual para todas as pessoas e nem em todas as circunstâncias. Cada um sabe onde dói o que perdeu. A dor de uma perda é um sentimento singular. Não importa se foi seu amor filho ou filha, marido, esposa, amante, familiar distante, companheiro ou companheira, amigo ou amiga, irmão ou irmã, pai ou mãe. Não importa se foi seu animal de estimação ou um ídolo; quando o luto se instala é por que um vínculo de amor importante se rompeu. Sem o amor não há luto. Sem amor a morte passa despercebida. O luto só se dá sob uma base de amor, esta é a única condição para o enlutamento. 

A morte, já sabemos, é soberana. Sobre ela nenhum argumento perdura, é condição de vida, é inexorável a todo ser vivo. Podemos lutar contra, tentar esquece-la, desviar o assunto, mas ela faz parte de nós. E se por um lado nos assusta, por outro, pode nos ajudar a lembrar que somos finitos e, neste sentido, nos instigar a cuidar mais de nós e do que amamos e precisamos para dizer que vale a pena viver. 

Desajeitada, a morte, as vezes chega cedo demais e leva quem ainda estava por vir, os que acabaram de chegar ou estavam aprendendo a viver, os do meio do caminho, aqueles que estavam ao nosso lado a vida inteira. Leva aqueles queríamos eternos, os que fazem parte de nós e que não nos deixam esquecer quem somos, e que agora, sem eles, quem éramos. Até quando a morte chega em um tempo aceitável, diante das circunstancias da vida, provoca um certo estrondo e nos coloca diante do mistério que é o viver e o morrer, diante da nossa humanidade e finitude.

A morte acontece. O luto transforma o que a morte provoca. 

É preciso senti-lo não como o fim de uma história apenas, mas como o momento de se redescobrir sem alguém ou algo importante. O luto exige um tempo singular e por isso, não podemos reduzi-lo a dias, meses e até mesmo em anos. Pois o luto é processo e é experiência. É adaptação e ressignificação daquilo que ficou do que foi vivido. O luto, que acontece ocasionado por um fim, como no caso de uma morte, por mais absurdo que possa parecer – também traz em si um movimento de vida para quem segue vivendo. 

O luto dói, desestabiliza e faz chorar. Dispersa o pensamento, deixa sem sentido os dias e as vezes até a vida; dá um nó na garganta e um vazio no estômago, o luto passa pelo corpo, tira o sono e também pode provocar o dormir demais. Por vezes, é tão intenso que ocupa toda a energia; outras, se alonga tanto que parece não ter fim e exige uma força que nem era conhecida, para continuar vivendo. E se segue vivendo, por incrível que pareça, seguimos. Não mais como antes, mas transformados pela experiência do viver e do morrer.

Na travessia do luto e para viver o luto, é preciso entender o paradoxo de que quem morre segue vivo na lembrança, no sentimento, na saudade, naquilo que se é, pelo simples fato de se ter vivido um bom vínculo com que partiu. Existem marcas que não se apagam e são elas que permitem e exigem, que quem segue vivo se deixe transformar em nome do amor que perdura naquilo que já se foi. 

No entanto, para que o luto seja transformação de sentimentos, precisa da ação para que o que foi vivido não seja apenas uma fonte de tristeza e cabe ao enlutado dar um sentido ao que aconteceu, esta é uma tarefa intransferível. Reconhecer a perda, viver a dor, ser generoso consigo em suas necessidades, pedir ajuda, respeitar seu tempo, dizer não ao que parecer fora de compasso – são algumas maneiras de sentir como e de que forma se poderá seguir a diante. Cabe repassar a história considerando e reconsiderando o que foi bonito no viver e que vale permanecer, bem como, o que já pode ser deixado para trás, como parte do que foi possível ser feito e, em qualquer circunstância, ficar em paz com a história que se findou e não vai mudar.

Sabemos que este processo, que este percurso de enlutamento não é fácil, não é nada fácil. Abrir mão de um amor e mesmo assim seguir amando, é um exercício que requer muito investimento psíquico, que requer idas e vindas na história vivida, que tem altos e baixos como ondas no mar, que as vezes vem com força e arrastam tudo em seu trajeto e outras vem tranquila e só molham os pés de quem anda no caminho do luto. 

Quando dizemos que o luto transforma, é porque neste espaço de tempo de luto, quando a dor aguda vai acalmando, o que acontece não é um esquecimento, nem uma “superação”, menos ainda, um virar de página – o que acontece, é uma ressignificação de sentimentos. A dor se transforma em paz, a saudade pulsa sem machucar, as coisas do dia a dia tomam um sentido diferente – nem melhor, nem pior – diferente. E a vida que segue é calcada na experiência do que foi vivido, em amores que sempre serão presença em forma de lembrança, de história e de afeto. Por isso, homenagear os mortos é também revisitar a própria história, que uma vez escrita precisou ser transformada, para seguir amando para além da vida. 

 

Texto escrito: Ana Maria Dall’Agnese e Ângela Seger

Programa de Apoio aos Enlutados: lembrar, sentir, conectar e seguir

Estamos nos aproximando do período de celebração do Dia de Finados, uma data que tem como finalidade homenagear aqueles que amamos e não estão mais aqui conosco. Algumas pessoas podem se perguntar, por que um dia para lembrar de quem morreu? Afinal, a gente lembra todo o dia, mas talvez para algumas pessoas não seja assim. Portanto, além de homenagear, este dia também pode nos trazer uma experiência diversa e é isso que vamos propor aos leitores deste texto. 

Quando perdemos alguém afetivamente importante, se processa uma grande transformação em nossa vida, o mundo deixa de ser aquele que conhecemos e essa mudança por vezes é muito impactante. Altera a percepção que temos das coisas, nossas emoções, o que pensamos e como nos relacionamos com os outros e com a própria vida. A dor produzida pela morte de quem amamos em alguns momentos é tão intensa e duradoura que temos a sensação de que nunca vai amenizar.  

Podemos recear esquecer ou ter nossas memórias gradualmente apagadas com o passar do tempo, tememos esquecer como era sua voz, seu abraço, sua presença. Outras vezes lutamos contra as memórias, pois, também sofremos com elas. Estas duas situações podem coexistir nos trazendo ora tristeza pela perda, ora alegria pelo que foi vivido com essa pessoa enquanto nos foi possível. Assim, permitir-se LEMBRAR, recordar, revisitar os momentos compartilhados, pode ser uma fonte importante de conforto, mesmo que em vários momentos sintamos tristeza, raiva ou indignação com tudo que ocorreu.

 Podemos ouvir de quem está a nossa volta, ou de nós mesmos, que precisamos ser fortes, superar… na realidade o que precisamos é permitir que esta dor se manifeste, seja expressa e acolhida por nós e se possível por quem está ao nosso redor, enfim se permitir SENTIR. A dor produzida pela falta, pela ausência, pelo que não foi dito ou vivido permanece, o tempo não apaga, a gente não esquece. Nem da dor, nem do amor, pois só dói tanto, porque amamos na mesma medida ou mais, quem morreu. Os sentimentos associados a essa dor, precisam ser acolhidos, compreendidos, expressos, portanto falar, lembrar, rir com as lembranças, chorar com as lembranças, é o que vai permitir que o processo aconteça e que as memórias fiquem claras, presentes e nos acompanhem ao longo da vida. Desta forma a dor vira saudade com o passar do tempo.

Esta transformação, de dor em saudade, que é gradual, com altos e baixos, avanços e retrocessos também ocorre à medida que esta relação que antes acontecia “fora”, com o outro, aos poucos vai se constituindo em algo que vai acontecendo somente “dentro” da gente, com  a consolidação de uma nova forma de relação que acontece a partir dos laços continuados. Desta maneira conseguimos nos CONECTAR com quem perdemos através de nossas recordações, sentimentos e pensamentos. Esta conexão também pode lançar um novo olhar sobre nós mesmos e aqui a transformação maior pode acontecer. Ao cuidar de nossas emoções e nos permitirmos viver o processo de luto, desenvolvemos um processo mais amplo de autocuidado que pode abranger: cuidar de nossa saúde, da relação com as pessoas que estão a nossa volta e de poder viver o hoje com suas alegrias, tristezas e desafios. Algumas estratégias podem auxiliar nesta conexão, uma delas é realizar homenagens em forma de rituais, sejam de despedida ou de lembrança, que tem como função marcar o que fica desta pessoa em nós. Os rituais tem significado próprio e seu sentido deve ser atribuído pelo enlutado, a partir de seu desejo de como e de que maneira prefere homenagear quem morreu.

Viver o processo de luto, ressignificar a perda de um ente querido, dar novos sentidos a vida, construir significados, são desafios que fazem parte de agora em diante, da vida de um enlutado. Na perspectiva de SEGUIR em frente, entendendo que o luto não é algo terminado, pronto, é algo vivido dia a dia, doloroso, mas também transformador.  

Neste sentido a família, amigos e outros grupos a que pertencemos podem nos apoiar afetiva e efetivamente. Em algumas situações é necessário apoio profissional para que este processo possa retomar seu rumo em direção a adaptação à perda, a uma nova relação com o mundo e uma vida diferente daquela que conhecíamos antes de perder nosso ente querido. 

Que este dia de finados possa ser de cuidado com as memórias, de homenagem a quem amamos e também, de autocuidado e de transformação. 

Esperamos vocês para um espaço de acolhimento, cuidado, lembrança e homenagem a ser realizado ainda em Outubro. 

Texto: Ana Maria Dall’Agnese e Ângela Seger